quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Paixão é diferente de amor!




Hoje apetece-me falar da paixão. Tantas vezes, e erradamente, confundida com o amor. Erradamente porque o amor e a paixão nada têm em comum. São matérias diferentes. Universos diferentes. É possível amarmos alguém e apaixonarmo-nos por outrem. O amor não pressupõe paixão, nem pela pessoa que amamos, e permite a paixão por outra pessoa que não a que amamos. Nem a paixão pressupõe o amor. Eu já me apaixonei por alguém que não era a pessoa que eu amava.


A paixão é em tudo diferente do amor. O amor é algo de inexplicável, enquanto a paixão é explicável até ao mais infimo pormenor. A paixão acontece por afinidades físicas, intelectuais, psicológicas, o que for. O amor não. O amor acontece porque tem de acontecer. Um literato ama um ignorante. Um comunista ama um nazi. Ama-se os feios. Ama-se as más pessoas. Ama-se toda a gente, porque o amor não tem que ver com tipos, géneros, sexos, preferências de qualquer tipo. O amor não tem qualquer explicação lógica.

O amor é uma construcção, mas já existe antes de ser construído. Ou melhor, é uma descoberta dessa construcção, como quem aos poucos, e conjuntamente, seguindo na mesma direcção e ao mesmo ritmo, vai rumando por um caminho desconhecido. A paixão não tem nada que descobrir. É entertenimento puro, e não há mal nenhum nisso. Mal há na confusão entre amor e paixão.


Diz-se que a paixão é mais excitante e mais leviana (por vezes criando-se uma absurda conexão entre a leviandade e a excitação, como se uma das coisas levasse à outra, sendo a ordem qual for, é bizarro pensar-se assim). Mas vejamos: a paixão é explicável em todos os pontos, apaixonamo-nos por uma pessoa bonita, por uma pessoa interessante, e isso pode ou não ser leviano.

Mas haverá algo mais leviano do que um sentimento tão profundo e forte como o amor que não podemos explicar porque existe? E quanto a ser menos excitante: não será a paixão mais aborrecida do que o amor, sendo que não tem mistério, sendo que é explicável, sendo que é humana até à última instância? E o amor: haverá algo mais excitante do que um sentimento completamente inexplicável, de que nada sabemos, que temos de descobrir aos poucos, devagar, com calma, com tempo, onde nada é certo, um sentimento tão perfeito que não é humano, é divino?


A paixão pode proporcionar muito prazer, é evidente. Mas o amor proporciona um prazer maior porque mais do que nos fazer felizes momentânemente, faz com que esse momento, mesmo que seja fugidiu e único, dê para toda a vida.